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Spinraza® tem reembolso negado para canadenses com atrofia muscular espinhal tipos II e III


Spinraza® (nusinersena), um tópico constante de discussão no campo das doenças raras, é um oligonucleotídeo antisense sintético, um tipo de material genético, que pode ser usado para tratar crianças e adultos com atrofia muscular espinhal (AME) (European Medicines Agency, 2017).


A AME é uma doença rara que acomete aproximadamente uma em cada 10 mil pessoas, afetando homens e mulheres (Organização Nacional para Doenças Raras, 2022). Este grupo de condições raras é caracterizado pela perda de células nervosas na medula espinhal (neurônios motores inferiores) (National Organization for Rare Disorders, 2022). As pessoas afetadas por essa condição geralmente experimentam fraqueza e atrofia muscular significativas, hipotonia, reflexos diminuídos ou ausentes e fibras musculares contraídas.


Spinraza® é um dos medicamentos mais caros do mundo para doenças raras e causou bastante controvérsia internacional por conta disso. No Canadá, a Agência Canadense de Medicamentos e Tecnologias em Saúde (CADTH) aprovou o Spinraza® em 2017 sob três condições (CADTH, 2017).


A primeira era a de que a Biogen Canada Inc, produtora desse medicamento, oferecesse uma redução substancial de preço (CADTH, 2017). A segunda, que o Spinraza® só fosse oferecido mediante cuidados de um especialista com experiência no diagnóstico e manejo da AME (CADTH, 2017). Além disso, o CADTH informou que a coleta de evidências de mundo real precisaria ser ser realizada (CADTH, 2017). Para aqueles que estão envolvidos no mundo das doenças raras, ou aqueles que leram nossos posts anteriores, este é um tipo notável de itinerário alternativo de cobertura, que é infrequente no Canadá.


Assim, pacientes com atrofia muscular espinhal 5q obtiveram acesso a esse tratamento caro, mas que salva vidas, há cerca de 5 anos. É importante ressaltar que este foi apenas um subgrupo da população com AME e este medicamento foi oferecido apenas a pacientes que tinham uma deleção do gene SMN1 (CADTH, 2017; National Organization for Rare Disorders, 2022). Enquanto 92% de todos os pacientes com a doença têm esse tipo de AME (Slayter et al., 2021), na verdade existem cinco tipos distintos da mesma (National Organization for Rare Disorders, 2022). Em 2019, após outro processo de revisão do CADTH, foi concedido acesso para o tratamento da AME 5q em todos os tipos de pacientes, incluindo aqueles de todas as idades e os pré-sintomáticos (CADTH, 2019).


Em maio deste ano, a Biogen Canada Inc. solicitou a aprovação do uso e reembolso do Spinraza® para pacientes com AME tipos II e III. Os pacientes com tipo II podem frequentemente sentar-se de forma independente no início de seu desenvolvimento, mas perdem essa capacidade em meio à adolescência (National Organization for Rare Disorders, 2022). Indivíduos com AME tipo II nunca podem alcançar a independência para andar ou ficar em pé e muitas vezes têm dificuldade em engolir e respirar, experimentam tremores significativos e têm escoliose (National Organization for Rare Disorders, 2022).


Já os pacientes com AME III geralmente apresentam fraqueza significativa no quadril e nas pernas e alto risco de quedas (National Organization for Rare Disorders, 2022). No entanto, eles geralmente são capazes de andar e ficar de pé de forma independente, mas tal habilidade se perde com a progressão da doença (National Organization for Rare Disorders, 2022).


No final de agosto, Spinraza® recebeu uma negativa de reembolso para pacientes com AME tipo II e III maiores de 18 anos, independentemente de seu status deambulatório (CADTH, 2022). Essa recomendação negativa foi dada porque o CADTH indicou que os estudos clínicos disponíveis não eram de natureza comparativa e, como tal, não podiam fornecer evidências conclusivas que comprovassem o benefício desse tratamento nas subpopulações em questão (CADTH, 2022).


Além disso, o modelo baseado nos marcos da função motora que foi fornecido pela Biogen Canada Inc, em preparação para a revisão, não capturava todos os principais aspectos da AME em pacientes adultos (CADTH, 2022). Adicionalmente, o CADTH afirmou que o modelo apresentado tinha limitações técnicas e os resultados apresentavam falta de validade (CADTH, 2022). Embora os membros da comunidade científica reconheçam a importância de decisões como essas baseadas em evidências robustas, muitos na comunidade de doenças raras ainda estão devastados pela indisponibilidade de um tratamento para pacientes com AME tipos II e III.


Em momentos como esse, pode ser útil para empresas farmacêuticas e governos considerar o papel de vias alternativas de acesso, como esquemas de financiamento alternativos (por exemplo: pagamento por desempenho).


Em situações semelhantes no passado, algumas empresas farmacêuticas forneceram tratamento gratuito aos pacientes à medida que coletavam evidências para um novo grupo em tratamento. Por meio de pesquisas sobre Inovação Farmacêutica Social (SPIN), esperamos compreender melhor como esses tipos de acordos estão sendo aplicados em todo o mundo e aprender com experiências passadas.


 

Referências


CADTH. (2017, December 20). CADTH Canadian Drug Expert Committee Recommendation: Nusinersen (Spinraza - Biogen Canada Inc.). CADTH Canadian Drug Expert Committee Recommendation. Acessado em 2 set 2022, em http://cadth.ca/sites/default/files/cdr/complete/SR0525_Spinraza_complete_Dec_22_17.pdf


CADTH. (2019, February 27). CADTH Canadian Drug Expert Committee Recommendation: Spinraza - Biogen Canada Inc. CADTH Canadian Drug Expert Committee Recommendation. Acessado em 2 set 2022, em https://www.cadth.ca/sites/default/files/cdr/complete/SR0576-Spinraza-Resubmission-Mar-1-19.pdf


CADTH. (2022). CADTH Reimbursement Recommendation: Nusinersen (Spinraza). Canadian Journal of Health Technologies, 2(8), 1-18.

European Medicines Agency. (2017). Spinraza. European Medicines Agency. Acessado em 2 set 2022, em https://www.ema.europa.eu/en/medicines/human/EPAR/spinraza


National Organisation for Rare Disorders. (2022). Spinal Muscular Atrophy. National Organisation for Rare Disorders. Acessado em 2 set 2022, em https://rarediseases.org/rare-diseases/spinal-muscular-atrophy/


Slayter, J., Hodgkinson, V., Lounsberry, J., Brais, B., Chapman, K., Genge, A., Izenberg, A., Johnston, W., Lochmüller, H., O'Ferrall, E., Pfeffer, G., Plamondon, S., Rodrigue, X., Schellenberg, K., Shoesmith, C., Stable, C., Taillon, M., Warman-Chardon, J., Korngut, L., & O'Connell, C. (2021). A Canadian spinal muscular atrophy outcome measures toolkit: Results of a national census using a modified Delphi method. Journal of Neuromuscular Diseases, 8(4), 579-588. 10.3233/JND-200617


Crédito da foto: National Cancer Institute (2020). Pessoa com jaleco segura a mão de outra [Imagem]. https://unsplash.com/photos/BxXgTQEw1M4


 

Escrito por: Shir Grunebaum (MSc)

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